Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
retalhoscg@hotmail.com

QUAL ASSUNTO VOCÊ ESTÁ PROCURANDO?


(...) continuando de Reminiscências: Rádio Borborema (Parte I)

Nos primeiros meses me sentia feliz e orgulhoso convivendo com os artistas que admirava. Algumas dessas personalidades merecem ser destacadas:

FERNANDO SILVEIRA.

O polifacético Prof. Fernando Silveira foi Diretor Artístico durante muitos anos. Foi, sem dúvidas, a pessoa mais importante e mais capacitada da rádio campinense . Foi Diretor Artistico, Radiator, Novelista, Poeta, Diretor de Teatro e de Televisão, Jornalista, Diretor e Professor do Colégio Normal, Vereador e estava sempre presente em todos os atos culturais, políticos e artisticos da cidade... Soube que antes havia sido professor de ballet clássico! Estava casado e tinha muito filhos sendo o mais velho, o famoso “Zito”, companheiro do “Flama”, o radiator Johans Silveira.

Seu Fernando era um professional competente, responsável e bastante exigente. Lembro-me que tínhamos que estar todos na hora do ensaio da novela, no qual ele orientava a todos para que fosse interpretado, como ele queria: O melhor possivel. Estava sempre pelos escritórios escrevendo, ensaiando ou nos stúdios gravando algum programa. Era educado e amável, porém quando se zangava era como um terremoto que abalava todo o edificio! .Na Semana Santa era sempre esperado o programa “ A Paixão de Cristo” gravada pelo cast de radiatores. Era quase un previlégio interpretar a Jesus, papel reservado para o radiator mais relevante do momento, o mesmo que fazia o galan nas novelas semanais. Durante uns anos foi o Gil Gonçalves, depois Amaury Capiba, Eraldo César e, finalmente, nos dois ultimos anos que trabalhei na Radio, fui eu. Lembro-me ter sido reconhecido pelas ruas quando ao passar , escutava a frase, quase sussurrada, por alguma senhorita : É Jesus !

No ano 1963 com a televisão no periodo de provas fizemos muitos “dramáticos” dirigidos por ele. No ano 1965 apresentou a “Paixão”com muitos atores no Teatro Municipal. Eu ia ser Jesus, como na Radio. Começamos os ensaios e discordamos em seguida. Eu não queria fazer um Jesus tradicional como se fazia sempre, que parecia uma estátua, com “dois o três gestos” como dizia ele e abandonei o papel. Ele passou vários meses zangado comigo!


ROSIL CAVALCANTE

Rosil era um homem feliz, casado com uma descendente direta de Teodosio de Oliveira Ledo, uma senhora educada, fina e muito bôa conversadora (muitas vezes desfrutei da sua palestra quando esperava por Rosil que estava gravando no estudio) E, para confirmar a regra que “os opostos se atraem”, Rosil era todo o contrário: Um homem de aspeto, gestos e andares rudes, como os fazendeiros ou forrozeiros que interpretava nos seus programas. Ele era caçador e aparecia, às vezes, nos domingos de tarde, na radio, com seu chapeu de couro, sua espingarda no ombro, e com as cartucheiras cruzadas. Parecia “um caba de Lampião”; dava até medo! (Acho que foi um dos fundadores do Clube dos Caçadores)

Era muito conhecido e querido em Campina Grande. Foi o famoso professor Nicolau, no programa humoristico “A Escola do Nicolau” escrita por Eraldo César e apresentado no auditório com muito sucesso de público, uma vez por semana. Nas novelas também sempre fazia papeis de fazendeiros, chefes da policia, cangaceiros etc. de acordo com seu tipo de voz. As vezes improvisava alguma frase graciosa e tinhamos que fazer esforços para não rir. Lembro uma vez, numa novela ambientada no século XVIII que seu personagem dizia: - Vamos tomar um café! E ele disse: Vamos tomar um gostoso Café São Braz! (Havia a Cafeteria São Braz ao lado da Radio) e foi uma explosão de risos no stúdio. Tiveram que fazer um acorde musical para controlar a situação. Deodato, que era o diretor, estava branco e muito sério lhe disse. Lê o que está escrito! Tensão no stúdio!

Quando chegou a Televisão ele fazia um programa de forró, com personagens populares : Forrozeiros, malandros, prostitutas e soldados da policia...Haviam atrizes que reclamavam porque não queriam fazer esses papeis...

Porém que diferença do compositor que era capaz de compor tão belas canções, cheias de ternura e sensibilidade!


DEODATO BORGES:

Uma imagem aparece na minha mente ao recordar Deodato: Um escritório cheio de fumaça, um homem aparentando uns 35 anos, magro, com un cigarro na bôca e um copo cheio de café em cima da mesa, teclando freneticamente uma máquina de escrever, como um perito datilógrafo. De perto verificavas que só utilizava os dois dedos índicadores. Porém com agilidade e muito barulho! Era como um filme policial, em branco e preto dos anos 40.

Quando deixava a máquina de escrever era um homem sério, tranquilo um pouco retraido e muito respeituoso. Trabalhava como auxiliar de Fernando Silveira até que Fernando deixou a Radio e ele assumiu a Direção Artística. Escrevia novelas, textos para programas de auditório e a famosa série “As Aventuras do Flama” que era a preferida da meninada Campinense. Deodato, ao contrário de Fernando, quase nunca ensaiava com os radiatores, confiava que cada um fizesse o melhor que pudesse, porém eu achava que baixava o nível de interpretação. Com “O Flama” era incrível! Muitas vezes estavamos esperando os “scripts” que ele estava acabando de escrever, no seu escritório no primeiro andar e ouviamos a música do inicio da série no stúdio, no segundo andar. Tínhamos que subir a escada correndo, entrar no stúdio e interpretar un papel sem ter lido antes dando o maior realismo possivel.. Era tremendo! Nesses dias, quando saíamos não lhe diziamos nem adeus!

Faziamos um programa semanal “A Semana em Revista” que entrava no ar o domingo de noite. Dramatizávamos as noticias importantes da semana passada e alguma vez, se não havia coisas interessantes que contar, ele inventava que havia aparecido un disco voador no Amazonas e tinhamos que fazer de pescadores assustados, reprimindo a vontade de rir... Como naquela época não se podia verificar se era verdade isso era possivel... Os radiatores riam e ele ficava sério dizendo, sem convicção, que era verdade, que havia lido etc.

Deodato era um excelente companheiro de trabalho. Nunca ouvi ninguem dizer o contrário.


HILTON MOTA:

Mota com uma “T”, pois não era primo do meu pai, como os Motta do curtume.(Isso se pode verificar nos jornais dos anos 60s) Estes vinheram de Caruarú e Hilton, acho que vem do interior da Paraiba. Acho que era de Patos.

Seu Hilton era um homem dinâmico, alegre, brincalhão e muito bom profissional. O chefe ideal! Para mim foi um prazer trabalhar na mesma dependência com ele vários anos. Trabalhou muitos anos na Radio Borborema como locutor, radiator, animador de programas, concursos e pastoris etc. E quando assumiu a gerência, a Radio Borborema passou a ser (econômicamente) a número um do Nordeste. Por isso foi transferido para dirigir as Radios e Diários Associados de Pernambuco. Lembro-me que Elisa César, a mais antiga e adorável radrioatriz da época, me disse uma vêz: - Cumpade Hilton agora está sério porque é gerente, mas, antes era o “mais moleque” da radio!

Nas férias de verão do ano 1963 tivemos a Hilton Mota Junior (Tito) agora conhecido comerciante, e ex-presidente da CDL-CG “castigado” fazendo de “recadeiro” na nossa sala, por não ter sido aprovado no exame do fim do ano. Era um menino gracioso e engenhoso e acho que se Seu Hilton imaginasse que no futuro ia fazer dois cursos superiores, não houvera sido tão severo por aquele pequeno tropeço!

Acho que a transferência de Hilton Mota para Recife determinou meu abandono da Radio Borborema, pois o novo gerente era o oposto a ele e em poucos meses de convivência e uns problemas com ele, eu “pedi as contas” e deixei a Radio Borborema para sempre...


DESMONTANDO UN MITO:

No escritório onde eu trabalhava, tinha na minha frente Miguel Carneiro, o secretário de Hilton Mota, uma pessoa simples e pronta para “ajudar” a todos que lhe pedissem. Ele recebia todas as manhãs os Jornais Associados de Recife, João Pessoa e o Diário da Borborema. Um dia, estando eu presente, vem um locutor, pouco conhecido naquele momento e propõe a Miguel um trabalho em conjunto: Miguel copiaria as críticas de cinema do Recife e João Pessoa e ele apresentaria um programa sobre cinema. Assim nasceu e viveu muito tempo o programa do famoso crítico cinematográfico da Radio Borborema: Humberto Campos! 

Nessa época a distribuição dos filmes se fazia vagarosamente, haviam poucas cópias e apresentavam numa cidade e depois enviavam a outra. Um filme com première no Rio chegava a Campina, depois de passar por Recife e João Pessoa, às vezes seis meses depois. E quanto mais sucesso tinha mais tardava. Se fosse hoje seria bastante dificil fazer o programa com o sistema que utilizavam os companheiros...

Em internet há alguns escritos elogiosos ao programa e a sabedoria desse locutor que depois foi conhecido como locutor esportivo e sei que jogava muito bem o futebol e transmitia com esmero os partidos, porém, de CINEMA e de arte em geral, posso afirmar que sabia muito pouco ou NADA! Que me desculpem os seus admiradores se com isso vou destruir, talvez, uma imagem bonita das suas memórias e despertá-los de um sonho ilusório. Acho que a verdade é preferível ao mais belo sonho. E essa é a verdade!


COMPANHEIROS DA PROFISSÃO:

Os locutores e Radiatores tinham pouco contato entre si. Pelos horários, às diferenças de labores etc. mas, nos conheciamos todos. Principalmente os que tambem trabalhávamos nos escritórios. Os melhores locutores naquela época, para mim eram: Ariosto Sales, Nelson do Amaral, Luismar Resende, Ari Rodrigues Amauri Capiba e Joel Carlos. Ariosto e Joel Carlos passaram para a televisão em 1963 como gerente e chefe de stúdio respectivamente.

Com Joel Carlos, como diretor, fizemos o primero programa de teleteatro:” A Fuga,” uma historia de adolescentes,(ao estilo James Dean he he) comigo de protagonista. Depois fizemos outros dirigidos por Fernando Silveira e pelo meu grande amigo da juventude Walter Tejo.

E para concluir quero dizer que essa é a minha visão daquele passado cheio de ilusões e também de realizações...É verdade que tambem adicionado a isso haviam às histórias de amor, desamor, intrigas, invejas e alguma traição, mas isso faz parte da privacidade dos companheiros de outrora...

FIM (?)



WALMIR CHAVES 
Nascido ( detrás da Catedral) em Campina Grande -Pb.
Sociólogo (UFPB);
Curso de Arte Dramático na Universidade de Teatro de Paris;
Curso de Formação e Pesquisas Teatrais no C.U.I:F.E.R.D, Nancy-França;
Cursinhos de Teatro com eméritos diretôres do Teatro Europeo ;
Professôr na Escola Superior de Teatro de Barcelona ;
Atôr e Diretor de Teatro ( Havendo trabalhado na França, Suissa e Espanha) ;
Radialista
Atualmente: Aposentado - Reside em Barcelona -Espanha.

13 comentários

  1. Anônimo on 17 de fevereiro de 2013 às 10:50

    Muito bom saber dessas histórias!

     
  2. Anônimo on 17 de fevereiro de 2013 às 11:11

    PARABÉNS!!!!ANTIGA RÁDIO BORBOREMA,GRANDES PERSONALIDADES NO AR!!!!MIGUEL CARNEIRO,REDATOR DO PROGRAMA RETALHOS DO SERTÃO!!!!

     
  3. Paulo Gomes on 17 de fevereiro de 2013 às 14:57

    Caro Walmir,

    Belíssimo relato, cópia fiel do temos em nossas áureas lembranças do rádio em Campina Grande. Relembramos as icônicas figuras de Fernando Silveira, Rosil Cavalcante, Deodato Borges, Hilton Mota e o sempre polêmico Humberto de Campos. Éramos admiradores do "Falando de Cinema" e aguardávamos semanalmente as resenhas dos filmes em exibição na cidade. Sempre percebemos a influência de outros críticos nos resumos apresentados ao microfone pelo apresentador, que emoldurava com sua verve e maneirismos a sua versão das análises críticas. Era muito prazeroso ouvir este programa dominical (se não me falha a memória, ia ao ar por volta do meio dia), e lembramos sempre das músicas e trilhas apresentadas, principalmente, a de abertura, Goldfinger com Shirley Bassey. Bons tempos aqueles. Parabenizo-o novamente por esta belíssima postagem, que nos faz viajar no tempo.

    Abraços.

     
  4. rômulo azevêdo on 17 de fevereiro de 2013 às 16:15

    Muito bom Walmir, creio que ainda tem muita história para ser contada.
    Por exemplo:falar sobre as mulheres(cantoras e atrizes)que trabalhavam na Borborema.
    Os funcionários dos bastidores(lembro de Pedrinho, "o homem da sorte" que também atuava como porteiro do auditório.
    Chamavam ele de "o homem da sorte" porque era ele quem segurava a sacola com os canhotos dos ingressos que eram sorteados com a platéia.
    Tem também as histórias da nossa pioneira Tv Borborema(este ano vai completar 50 anos!)que você viu nascer.
    Mãos nos teclados!
    Outro assunto: meu caro Paulo Gomes, realmente era um programa obrigatório dos domingos-ao meio dia-o "Falando de Cinema".
    O melhor do programa eram os testes que sorteavam ingressos do Capitólio e Babilônia.
    Tinha ainda as cotações dos filmes(notas de zero a dez)e as previsões da semana onde Humberto se valia das criticas(sempre citando a fonte)publicadas em jornais do Rio e São Paulo, e na revista "Guia de Filmes" publicada pelo Instituto Nacional de Cinema(INC).
    O programa de Humberto começou na Borborema e terminou na Caturité.
    Outro bom programa de cinema apresentado na cidade, era o "Sétima Arte" que ia ao ar, aos sabados, na Caturité.
    "Sétima Arte" era produzido e apresentado por Aldo Porto.
    Enquanto Humberto enaltecia o cinema americano, Aldo dava mais atenção ao cinema europeu.
    Nos anos 80/90 produzi e apresentei nas fms "Campina" e "Correio" o programa "Cinema Falado" que era um dos quadros da "Revista Cultural" apresentada nos fins de semana(no inicio, aos sabados e depois aos domingos)durante oito anos.

     
  5. Walmir Chaves on 17 de fevereiro de 2013 às 16:50

    Caro rômulo,

    Obrigado pelas sugestões. Meditarei!!!
    Lembrei-me de um conhecido que ganhava todas as semanas 2 ingressos dos cinemas: VALDIRIO !!! Certamente recordarão pois seu nome saia em todos os programas como acertante!(Na Radio Borborema) Ele tinha comprado uns livros de cinema, no Recife e tinha mais informação que ninguém de Campina!! rsrs

     
  6. Emmanuel Sousa on 17 de fevereiro de 2013 às 17:10

    Nos anos 90 eu e meu irmão (José Alves Júnior) éramos constantemente sorteados todas as semanas no programa "Revista Cultural" aos domingos na Rádio Correio com o mestre Rômulo Azevedo. Certa vez houve uma pergunta que não lembro qual foi, que só eu e ele, obviamente, acertamos e ganhamos 5 ingressos cada.
    Só não participávamos quando o Babilônia mantinha o mesmo filme por várias semanas em cartaz!
    Bons e saudosos tempos!

     
  7. Paulo Gomes on 18 de fevereiro de 2013 às 09:48

    Caro Rômulo,

    Quem não lembra da figura do "Pedrinho", seu nome verdadeiro era Pedro Costa, também atuou por muitos anos como porteiro do Teatro Municipal,e cobrador da Rádio Borborema, TV e Diário, vindo a falecer, anos após sua aposentadoria na cidade de Recife onde residia no final de sua existência.

     
  8. Rômulo Nóbrega on 18 de fevereiro de 2013 às 21:43

    Olá Walmir, (peço desculpa se este comentério está em duplicidade)

    A Rádio Borborema clama pelo resgate à sua história, história esta tão rica e tão esquecida, de uma emissora de muita importância no cenário nacional, notadamente no Nordeste e que foi alvo de comentário inclusive por Max Nunes, quando citou que somente duas emissoras dos Associados conseguiam fazer determinado programa, com os scripts por ele enviados que eram: Rio de Janeiro e Campina Grande.
    Walmir, peço entrar em contato comigo pelo e-mail: romulocn@gmail.com
    Abraços.

     
  9. Anônimo on 19 de fevereiro de 2013 às 13:07

    Parabéns!!!Ótimo postagem!!!Era admirador da locutôra MARILDA FERREIRA!!!

     
  10. Anônimo on 19 de fevereiro de 2013 às 14:22

    É muito legal conhecer a história de Campina Grande de este jeito tão pessoal e datalhado. Para mim é especialmente interesante ja que, mesmo que eu nunca morei là, é a cidade onde nasceu e cresceu o meu pai. Além disso, conhecer estas histórias, criadas ao redor das experiencias pessoais dele, é tambem conhecer a história dele...

    Fico feliz de observar que o pessoal curte mesmo destas narrações de um campinense "internacional" que sente saudade e paixão pela sua terra (isso eu posso confirmar).

    Parabéns pai!!!

     
  11. Anônimo on 19 de fevereiro de 2013 às 16:04

    Parabens Walmir pelo seu relato.
    Me fez recordar minha infancia e adolescencia, do Clube Papai Noel, das Aventuras do Flama, do Falando de Cinema e do Forro de Ze Lagoa que meu avo ouvia todas as noites religiosamente.

    Alberto Cavalcanti

     
  12. Anônimo on 21 de fevereiro de 2013 às 17:00

    É MASSA!!!!

     
  13. Elias Leal on 30 de agosto de 2019 às 00:52

    Minha avó,Eliza César era atriz da rádio Borborema e meu avô era violonista,José Maria, o senhor teria alguma coisa perdida da rádio falando deles? Desde já agradeço.

     


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