Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
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                                                                                                   Por    Mario Carneiro da Costa                  

Não havia no Estado na segunda metade do século XIX, outra  área de maior intelectualidade no interior,  senão em Cajazeiras.  Areia  ainda não havia  recebido o título de cidade  culta e o mais evoluído recanto    cultural   ocorria naquela cidade sertaneja,  onde um filho da então fazenda Serrote, que no futuro seria  aquela próspera cidade, tomou para si a nobre  missão de  alfabetizar  toda  a sua região.  Inácio de Souza Rolim, o Padre Rolim, pessoa  de qualidades e cultura  raras, nas palavras do tribuno Alcides Carneiro  “ensinou a  Paraíba  a ler”. Ali se  desenvolveu o ensino  e, na segunda década  do século passado,  surgiu o colégio que proporcionaria aos jovens de então cursar  o secundário. Estava  assim  a Paraíba servida  por  dois  daqueles  estabelecimentos  e localizados   em pontos opostos : na Capital e no extremo oeste do Estado.

Despontavam como centros  em desenvolvimento as  cidades de Campina Grande e Patos, ambas carentes de instituições de ensino secundários. E foi  daí que na década de trinta passada, foram  plantados naquelas  cidades os embriões do que seriam os  colégios Diocesano  Pio XI e  Colégio Diocesano de Patos.  A qualidade do ensino em ambos,  em pouco tempo, logo se tornou de alto conceito e para eles convergiam  jovens estudantes, deste Estado, do Rio Grande do Norte e de Pernambuco. O corpo docente era composto por professores da melhor estirpe, contando com padres  e mestres outros que tiveram  longa  formação em seminários do nordeste..

Não tardara os colégios que funcionavam em  instalações improvisadas e precárias, buscarem edificações construídas para aquele fim especifico. Foi o caso do Pio XI, que na fase embrionária funcionou em dependências anexas a Matriz da cidade, atual Catedral. E a cada dia aumentava o numero de alunos neste educandário que já funcionava na edificação nova da rua João Pessoa,  com a modalidade de  internato para o sexo masculino, onde o aluno interno não somente burilava a sua formação moral, como  doméstica e social.

Naquele  estabelecimento,  regiamente  instalado em um prédio  com  primeiro andar  e forma de  H  maiúsculo este autor chegara de calças curtas  na década de 40 do século passado e a ele estivera ligado   até  anos  de 1960. O colégio  reservara para o internato o primeiro andar e ali se  localizavam,  refeitório,  cozinha, dormitório, salas de estudo, biblioteca  e alojamento do diretor e auxiliares imediatos. Desativado em 1946, passou a ser  uma espécie de deposito, para onde eram recolhidos bancos, carteiras  e peças outras daquele acervo.   O acesso a  área  ficara   proibido  para   alunos  de  então.

A  essa  altura,  o  Pio XI   tinha por diretor o Padre Emídio  Viana Corrêa, cidadão  enérgico, de semblante fechado e que mantinha  a disciplina no  educandário na mais perfeita ordem. Na intimidade, o que somente  este  autor veio a conviver  já adulto e professor do Colégio,  o  Padre,  como era tratado o diretor, era uma pessoa alegre, risonha, cheio  do  que  se chama  vulgarmente de  “ repentes “, espirituoso, critico, amigo, inteligente, culto e possuidor de invejável coragem pessoal. O professorado de escol era  formado  por pessoas competentes, assíduas  e de postura e procedimentos  dignos  do  mestre  daquela  época.  As salas de aula, mosaicadas, forradas, providas de iluminação  natural,   eram  diária e rigorosamente limpas  por RITA ,  uma  mulher de feição chaboqueira,  velha  e   feia.   Seu  zelo pelo  trabalho  era   revelado pelo visual deixado  nas   dependências que além das salas de aula,  compreendiam  a sala dos professores, o gabinete do diretor e a secretaria, contíguas e  situadas  na  parte de ligação das hastes do H.

O colégio desde cedo primou  pela qualidade do ensino  e para tanto empenhava-se em adquirir tudo   o que se fizesse  necessário  para melhor aprendizagem do aluno.  Daí haver feito aquisição de  alguns instrumentos para ministrar aulas da cadeira  de  Ciências   Físicas   e Naturais. Neste contexto, incluiu um  esqueleto humano de alta  qualidade.  Absolutamente  perfeito,  de  porte  muito  elevado,  era totalmente articulado e um só osso por pequeno que fosse, não faltava.  Um dente sequer deixava de constar  Uma perfeição de peça. Pelas  dimensões ósseas, supunha-se  haver sido de uma pessoa do sexo masculino  o que  jamais foi pesquisado. Era mantido na sala do diretor, em uma estante prismática de quatro faces,  sendo  três  de vidro., com altura  aproximada de dois metros e  as bases quadradas,  de madeira,  com  cinqüenta centímetros de lado.  O conjunto era provido de uma porta na parte da frente, por onde era retirado o esqueleto,  permanentemente pendurado por um gancho     em um suporte na tampa superior.  Daquele local  era  levado  para  a   sala  de  aula.    

José Augusto Ribeiro,  Zezito,  de saudosa memória,  sempre se propunha  trazer  o esqueleto  para  a classe e antes da chegada do professor Almeida, respeitado e competente mestre,  Zezito provocava  risos, colocando um dos braços  sobre a área dos seios e a outra mão  cobrindo a genitália, e  mantinha   com  o esqueleto um monólogo ,quase sempre  hilariante.        
                                                                                                                  
RITA primava pela qualidade de seus serviços. Porém, no que concernia ao  box do esqueleto, muito ficava a desejar   É  que ela mantinha por ele profundo respeito,  grande    medo e “ pela  sua alma, rezava todas as noites”. Quando se aproximava do Box que ela  chamava  de “CAIXÃO DE VRIDO” , fechava  os  olhos, virava-se para ele e buscava espaná-lo  de costas e,   embora a  tarefa fosse  executada  com um  artístico  espanador de penas usado no gabinete do diretor, o serviço ficava a desejar.

Rita contava muitos anos naquela atividade, até que um dia, já de cabelos   brancos, velha e cansada, surgiu no colégio, uma jovem morena clara, bonita e alegre, procurando trabalho. Foi admitida para auxiliar Rita. A recém-chegada, de nome Odete, além do visual bonito, tinha uma voz linda e cantava muito e alto, o que foi proibido nas horas de aula pelo diretor.

Odete não tinha medo do esqueleto e assumiu a função de Rita. Tempos depois,  aquela serviçal  de outrora, se tornaria a esposa do  diretor  que deixara  o clero para  se tornar  seu   marido.  Rita, por sua vez, mudou-se para o outro mundo. O histórico Colégio Pio XI, que tanto distribuiu cultura através dos anos, fechou suas portas,  virou passado e o velho esqueleto  tomou rumo  por este autor desconhecido.  

4 comentários

  1. Anônimo on 10 de dezembro de 2012 às 08:22

    Na rua João Pessoa? O Pio XI estava na rua Getulio Vargas não é?

     
  2. mario vinicius on 10 de dezembro de 2012 às 17:49

    A entrada do Pio XI era pela Rua João Pessoa, através de um terreno em que hoje está o prédio da Rádio Caturité. Há uma foto publicada em posts anteriores em que isso é possível de ser constatado,

     
  3. Anônimo on 11 de dezembro de 2012 às 09:18

    Eu conheci o esqueleto do Pio XI.
    Aliás, o esqueleto(ou caveira, como também era chamado)foi responsavel por eu só passar uma semana estudando no colégio.
    Explico:nos distantes anos da decada de 1950, fui matriculado -juntamente com um irmão-no Pio XI.
    No primeiro dia de aula o padre Emidio nos levou até a sala do esqueleto e disse:"todo menino que se comporta mal aqui na escola, eu trago prá cá prá ficar conversando com o esqueleto!"
    Pronto,depois do aviso do padre a ossada passou a fazer parte dos meus pesadelos de menino.Só pensava na possibilidade de ficar trancado alí "conversando" com o esqueleto.
    Não deu outra, pedimos a mamãe que levasse a gente para outro colégio e na semana seguinte já estavamos matriculados no Alfredo Dantas.Que alivio!

     
  4. Walmir Chaves on 11 de dezembro de 2012 às 12:39

    Felizmente, você tinha uns pais compreensivos que lhe salvaram de um trauma ou de um sofrimento inecessàrio!

    A "Educação pela Pedra" que reinava em muitos educandários naquela época, e que era aprovada tambem por muitos genitores, em vez de educar, desestabilizou a muitas mentes juvenis!

     


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