Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
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por Rau Ferreira
 
Corria o ano de 1895. A Parahyba era governada pelo areiense Álvaro Lopes Machado, época em que se cogitava a construção de uma estrada de ferro de Campina à Mulungu que viria a ser administrada pela Great Western. Campina sentia a força política de Christiano Lauritzen e demais comerciantes, que congregavam forças em prol deste ideal. A estrada de ferro representaria o progresso e alavancaria o comércio local, por se constituir principal veículo de escoação da produção de grãos e algodão da região. Sob essa perspectiva, viria o laureado governante à Campina angariar os frutos de sua administração.

Há muito que o presidente projetara uma visita à cidade Rainha da Borborema, aproveitando essa ocasião quando se encontrava instalado, com a sua distinta família, na vila do Pilar, para onde se dirigiu com o intuito de gozar alguns dias de repouso. As cogitações do momento político o fizeram desprezar o descanso e partir para a tão desejada visita. 

Reuniram-se todos no dia 09 de julho, pelas seis horas no pátio da estalagem. Sua excelência com esposa e filhos, fazia-se acompanhar do desembargador José Peregrino, do chefe de polícia e ajudantes imediatos. A comitiva passou primeiramente por Itabaiana, onde hes foi oferecido um laudo almoço demorando-se o governante o resto do dia.

Seguindo viagem, aportou em Campina Grande o Dr. Machado no dia 11 do corrente, às 7 horas da noite, seguindo para a casa do Tenente-coronel Frankin d’Oliveira que ofertou um suntuoso jantar, merecendo o seguinte registro da imprensa:

“No centro da meza, que ostentava-se profusa em chrystaes e porcellanas, contendo finos e escolhidos manjares, assim como generosos vinhos, despertava a attenção dos convivas uma linda e artística torre Eiffel de cuja grimpa pendiam as azas d’um custoso laço de fitas tendo a inscripção em grandes lettras douradas: Viva o Dr. Alavaro Machado” (A União: 27/07/1895).

A elite campinense compareceu ao concorrido banquete. No terraço tocava uma banda de música, solenizando aquele momento. Incontáveis foram as girândolas, anunciando a presença do governador da Parahyba. Na ocasião, surgiram brindes entusiasmados ao Dr. Álvaro e ao desembargador, seguidos pelos animados oferecimentos ao Coronel Lourenço Porto e ao Partido Republicano. Tomando da palavra e levantando a taça, Lopes Machado dirigiu aos presentes as seguintes palavras:

“Aproveito o momento para externar o meu sincero apreço e dedicação leal ao amigo ausente, Desembargador Trindade, que tão dignamente ocupa a cadeira de extremo advogado dos interesses da Parahyba, no Congresso Federal, e peço desculpas de, na ocasião, descerrar as cortinas que abrigam no santuário do lar doméstico, as vividas e carinhosas saudades do meigo e honrado pai de família”

Na sexta-feira (12), fez questão o Dr. Álvaro Lopes Machado de conhecer a feira de gado campinense, em companhia de numerosos amigos, deslocando-se aos currais recém construídos pela municipalidade.

Naquele dia, contavam-se 1.300 bois que seriam negociados tanto para o abate, como para a reprodução e cria. O comércio antecedia a feira semanal, que acontecia nos sábados com “importante e bem sortida feira de gêneros”. Nessa ocasião, faziam-se previsões da seguinte feita: “Não exageramos, dizendo, que o commercio de Campina em puocos annos, depois de lá chegar a linha férrea, competirá com o commercio da nossa Capital”.

Com efeito, a feira de gado de Campina era “a maior feira do gado para açougue do norte da republica”, apenas aproximando em números à de Itabaiana.  (Gazeta do Sertão: 14/03/1890). 

A prefeitura havia levado a cabo a construção de 25 currais, pretendendo fechar a casa dos trinta. Eram compartimentos em forma de retângulos, cercado de grandes torós de madeira de lei, tendo a testada de pedra e cal em cujo meio se assentava um reforçado portão. Todos juntos, estavam separados por um outro portão que recebiam o gado vindo da estrada do Seridó. 

A cada curral ocupado, era cobrado pelo município a taxa de três mil reis, de um dia para o outro. Apesar de ser um tributo módico, era importante fonte de receita municipal dado o grande número de animais que acorriam aquele logradouro, constituindo abrigo seguro para a propriedade particular.

Demorando-se um pouco naquele lugar, partiu sua excelência em visita ao prédio da Cadeia Pública. O edifício – embora pequeno – era apropriado à clausula de seus detentos e servia muito bem aos seus propósitos, dado o pequeno número de segregados. Notando, porém, certa falta de limpeza, recomendou a pintura do edifício. 

Naquela mesma avenida, oportunamente, observou o Dr. Lopes o movimento de construção de novas residências, notadamente na rua da Igreja do Rosário, onde se edificava um quarteirão de oito a dez casas, além de uma escola pública em conclusão.

Criticas foram dirigidas ao Cemitério. A sua localização era inapropriada. Circundava o centro da cidade, próximo as ruas principais. Todavia, o governador foi informado acerca do novo local de repouso das almas, sendo-lhe apontado o cruzeiro ao longe da cidade.

Todo aquele clima de cordialidade despertou no governador a ânsia de ver logo inaugurada a estrada de ferro, motivada pela calorosa recepção campinense. Em sua mensagem à Assembléia, mencionou o presidente parahybano:

É de esperar que a Estrada de Ferro Central da Parahyba seja incluída  no Plano Geral da Viação, que terá de ser approvado pelo Congresso Federal, devendo prolongar-se além de Campina Grande (...). Os trabalhos do ramal de Mulungú à Campina prosseguem de modo, que é de esperar a inauguração, até o fim do anno corrente, do trecho compreendendo entre Mulungú e Alagoa Grande” (MS 1896).

Concluído o passeio às dez horas, aproveitou o presidente para almoçar em casa do seu amigo antes de prosseguir viagem de retorno.



Referência:
- MACHADO, Álvaro Lopes. Mensagem à Assembléia Legislativa. 2ª Legislatura, 15 de fevereiro. Imprensa Official. Parahyba do Norte: 1896.
- A UNIÃO, Jornal. Ano III, N. 582. Edição de 21 de julho. Parahyba do Norte: 1895.
- A UNIÃO, Jornal. Ano III, N. 587. Edição de 27 de julho. Parahyba do Norte: 1895.
- GAZETA DO SERTÃO, Jornal. Ano III, N. 10. Edição de 14 de março. Campina Grande/PB: 1890.
- GAZETA DO SERTÃO, Jornal. Ano IV, N. 16. Edição de 01 de maio. Campina Grande/PB: 1891

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