Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
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O material a seguir foi publicado na edição 3 da Revista Vila Nova e cuja publicação no RHCG, foi autorizada por eles. Mais informações visitem: www.revistavilanova.com .

A MARIA FUMAÇA E O CRESCIMENTO E DECLÍNIO DA ECONOMIA CAMPINENSE

Por Sávio Mota

Na época em que foi elevada à categoria de cidade, em 1864, Campina Grande tinha cerca de 300 casas e apenas cinco ruas - com a nominação de hoje: a Avenida Floriano Peixoto, as Ruas Afonso Campos, Maciel Pinheiro, Barão do Abiaí e Peregrino de Carvalho -, duas igrejas, dentre estas a Matriz, além da Câmara Municipal, a cadeia e alguns pequenos estabelecimentos comerciais. Em suma, o local ainda dependia muito dos que vinham de fora e por aqui passavam para descanso ou breves transações comerciais.

Campina sempre foi um lugar agradável aos que vinham de fora - tropeiros em sua maioria - por conta de sua ótima localização, bom clima e população acolhedora, já que a cidade nasceu para ser entreposto, convergência de todo tipo de gente. Ainda no Século XIX, com a elevação da vila para categoria de cidade, a “Rainha da Borborema” passou a receber imigrantes das mais diversas nacionalidades e etnias, destacando-se franceses, alemães, dinamarqueses, americanos, ingleses e árabes, que viram em Campina não apenas um bom lugar para se viver, mas também um bom lugar para desenvolver seus negócios.

Dadas as características já descritas da cidade naqueles tempos, não é difícil imaginar que aqui surgiram grandes feiras, as molas propulsoras da economia campinense. A cidade crescia organicamente pelo desenvolvimento de seu comércio e o conseqüente aumento populacional, tendo, entre o fim do século XIX e o começo do século XX, o primeiro florescer econômico.

O dinamismo do comércio campinense na época fez com que outros mais viessem de diversas localidades e investissem na cidade. A confiança de que a cidade poderia oferecer um bom ambiente para o desenvolvimento econômico fez com que muitos se instalassem na região, tornando o município uma interessante localidade para a economia regional. Porém, embora o crescimento de Campina neste período tenha sido proporcionalmente bom, o verdadeiro desenvolvimento ainda estava por vir.

A vinda de empresários e comerciantes visionários foi, na verdade, o maior ganho que a “Rainha do Borborema” conseguiu com o aumento populacional no século XIX. Isto porque estes viram que a localização da cidade - no cruzamento das principais estradas nordestinas - e o comércio que ali já se encontrava faziam do lugar uma ótima aposta para o futuro.



O Gringo

Um destes - sem dúvida um dos mais importantes - foi Cristiano Lauritzen, dinamarquês nascido em 1847 e que veio “para as bandas” da Paraíba por volta de 1870, desejando comercializar joias e relógios.

Com negócios no estado, Cristiano Lauritzen tinha como parada certa a Rainha da Borborema e foi em uma fazenda próxima da cidade que o dinamarquês conheceu Elvira, uma das filhas do Coronel Alexandrino Cavalcante de Albuquerque, delegado da cidade. Casou-se então com a moça e se instalou de vez por aqui.

Com ajuda do sogro, montou um comércio onde vendia diversos produtos e, por falar inglês fluentemente, passou a fornecer mantimentos aos ingleses que estavam pela cidade. Era muito influente também com o governo e os grandes fazendeiros da região. Com pouco tempo se tornou o maior comerciante da cidade e acabou “herdando” do Coronel Alexandrino a chefia da polícia local. Foi deputado durante um bom período, até assumir, em 1904, a Prefeitura de Campina Grande, de onde só sairia em 1923, ano de sua morte.

O “Gringo”, como era chamado Cristiano, foi o maior responsável pela vinda da linha do trem a Campina Grande. Em 1891 todo o projeto da estação de trem estava pronto, mas foi só em 1904 que as obras começaram, graças ao Gringo, que intermediou junto ao Governo, no Rio de Janeiro, o prolongamento da linha até a Rainha da Borborema.



Assim foi feito e às 8:30h de 2 de outubro de 1907, a Maria Fumaça - nome dado pela população ao primeiro trem que veio à cidade - chegou à estação campinense, causando euforia no grande número de pessoas que esperavam ansiosas pela novidade.

Crescimento populacional

A vinda do trem, substituindo os velhos tropeiros, deu o impulso que Campina Grande precisava para decolar: somada à localização privilegiada, uma boa logística para transporte de mercadorias e hábeis comerciantes e empresários, a Maria Fumaça fez não só com que o comércio de Campina crescesse exponencialmente, mas também sua população.

A cidade, antes com pouco mais de 20 mil habitantes, alcançou em três décadas os mais de 130 mil habitantes. Os que vieram – e também os que aqui já estavam – buscavam basicamente trabalho, e foi essa procura por uma chance de abrir o próprio negócio ou ter um melhor emprego, que fez com que milhares desembarcassem na próspera Campina Grande, o que rendeu à cidade a justa alcunha de “Capital do Trabalho”.

O Ouro Branco

Organicamente, alguns tipos de agricultura foram surgindo em Campina e em toda a Paraíba. Com o trem veio a facilidade para transporte de mercadorias a nível local e para exportação nos portos mais próximos - de Cabedelo (PB) e de Recife (PE). Logo, todo o Estado pôde desenvolver melhor sua agricultura, que tinha como principal produto o algodão.

Com toda a produção convergindo para o município, Campina passou a ser a principal economia estadual, ultrapassando – e muito – comercial e industrialmente a capital João Pessoa, que na primeira metade do século XX desempenhou praticamente apenas a função de capital administrativa do Estado.

O desenvolvimento da Rainha da Borborema como pólo comercial e industrial foi muito importante para toda a Paraíba, que passou a produzir muito mais para dentro e fora do país. Tanto é que o estado alcançou o posto de maior produtor de algodão do Brasil entre as décadas de 1910 e 1930, só perdendo o “reinado” a partir de 1933, quando São Paulo, após a crise do café, resolveu apostar na produção de algodão, conseguindo ultrapassar os demais concorrentes a nível nacional. Mesmo assim, Campina Grande – que chegou a ser a 2ª maior exportadora do mundo – seguiu sua “época de ouro” até meados da década de 1950, quando outros centros mais desenvolvidos conseguiram superar não só a indústria algodoeira da cidade, mas também outras partes importantes da economia campinense.”

Logística e infra-estrutura são indispensáveis 

Por incrível que possa parecer, os mesmos fatores que foram decisivos no crescimento econômico de Campina, foram também decisivos no recuo de sua economia. Falo de logística e infra-estrutura, características que andam de mãos dadas quando o assunto é o desenvolvimento e o escoamento da produção industrial ou comercial.

No início de século XX, a economia campinense teve seu crescimento baseado na “habilidade” de grandes comerciantes, cuja efetividade, contudo, só foi elevada ao máximo com a logística e a infra-estrutura que permitiram o transporte de produtos para os portos com rapidez, custos mais baixos e eficiência.

Ganha o mercado quem oferecer a melhor relação entre a qualidade e o custo de um produto. Está fadado ao fracasso aquele que produzir um bom produto e não conseguir transportá-lo com um custo compatível com o mercado.

Foi o que, com o tempo, acabou acontecendo com a produção industrial em Campina, que chegou a ser destaque nacional e até internacional, mas, quando teve que encarar concorrentes mais fortes dentro e fora do país, acabou perdendo espaço pela incapacidade de colocar no mercado produtos que pudessem concorrer de igual para igual com os demais. Uma das principais razões para isso foi a inexistência de um
porto na Paraíba que recebesse navios de grande porte.

O fato é que, com o tempo, a indústria campinense foi perdendo competitividade. Um dos fatores responsáveis por isso foi a concentração de investimentos, por parte do Governo Federal, na capital João Pessoa. Mas não é salutar culpar apenas a falta de incentivo “externo”. Até hoje a economia campinense não se recuperou como deveria e é preciso que não se jogue a culpa somente em outros agentes, mas que sejam criadas novas alternativas para o crescimento econômico e assim a cidade volte a ser competitiva. Condições para isso Campina tem de sobra.

5 comentários

  1. Edmilson Rodrigues do Ó on 13 de setembro de 2012 às 08:25

    Embora tenha nascido na zona rural do município de Campina Grande, região do carirí hoje pertencente ao município de Pocinhos, aqui me radiquei 30 anos depois da chegada do trem e assim tive oportunidade de conhecer a curva assencional máxima da história da ferrovia e da sua profícua atuação na indpustria, no comércio e na cultura campinenses, sobretudo no legendário período do algodão. O desenvolvimento foi tão acelerado que foi reaberto o projeto que havia sido criado lá pelos idos de 1920 para completar a interligação da malha ferroviária do nordeste mediante o prolongamento da ferrovia Campina Grande-Patos, projeto esse concluido na primeira metade dos anos 50 do século passado. Hoje, Campina Grande explodiu demogràficamente acontecendo o inverso no comércio e na indústria, sobretudo nesta última especialmente no campo extrativista. O algodão, a mamona, a oiticica, o sisal (agave) foram pràticamente erradicados. Consequentemente, as industrias de beneficiamento de fibras e óleos vegetais e seus derivados, tiveram o mesmo destino. Paralelamente, as grandes indústrias de beneficiamento de couros e peles foram irremediavelmente extintas.
    Diante disso, o comércio pujante da época, especialmente os setores de vendas em grosso e atacado do qual a Rua João Pessoa predominava foi extinto e hoje se constitue de lojinhas de vendas a varejo. E o legendário trem trazido pelo sonho do Cristiano Lauritzen, passou para a história. Quase 60 anos após a soberba inauguração do sonhado trecho Campina Grande-Patos, a total decadência se faz sentir. Armazéns e estações em ruinas total, trilhos enferrujados e desbitolados, dormentes apodrecidos. E o trem, é a lendária figura avistada com a mais extrema raridade trafegando precariamente naquela ferrovia outrora tão pujante.

     
  2. Anônimo on 13 de setembro de 2012 às 12:30

    Gostei muito dêsse postagem que me deixa algo triste recordando fatos vividos por minha familha no passado Campinense...
    Não entendo porque la Emprêsa Ferroviária não evolucionou no Brasil, como passou na Europa. Hoje, nos paises Europeus o trem compete com o avião na preferencia dos passageiros...
    Descubri que morei em duas das ruas mais antigas de Campina: Alfonso Campos e Peregrino de Carvalho. kkk

     
  3. Anônimo on 13 de setembro de 2012 às 13:23

    As vezes eu acho que o melhor ainda está por vir.

     
  4. Anônimo on 14 de setembro de 2012 às 10:09

    As ferrovias não avançaram no Brasil, porque empresas como a Chevrolet, Ford etc, precisavam vender caminhões.Ai o governo militar preferiu investir em estradas.
    Outro problema crônico que atrapalhou o desenvolvimento da malha ferroviária, foi a roubalheira tão comum em nosso país.
    Enquanto no sul-sudeste os trens trafegavam em uma bitola de trilho, no norte-nordeste a bitola era outra inviabilizando a interligação da malha.
    Êita, Brasil!

     
  5. Anônimo on 14 de setembro de 2012 às 10:32

    Vôte! Ha paises que só progressam porque Deus quer! kkk E não pela inteligência dos seus dirigentes

     


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