Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
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                               O trem chegou a Campina em 02 de outubro de 1907, graças a grande campanha implementada pelo prefeito Christiano Lauritzen (1904/1923). O Monsenhor Sales procedeu a benção, enquanto o médico Assis Chateaubriand Bandeira de Melo fez a oratória, inaugurando uma onda de progresso que seguiria anos a fio. Comenta-se que a partir de então Campina nunca mais fora a mesma.
Neste artigo, vamos fazer uma viagem no tempo através da Maria-fumaça n° 32.
Imagine a máquina aproximando-se da cidade, com destino à Estação, onde repousaria até sua próxima partida. Deslocando-se por entre fazendas, atravessando vilarejos e brejos. No seu interior moças dão risadas, crianças ensaiam andar acompanhando aquele vai-vem, numa dança nostálgica. A janela parece um quadro inconstante, figuras aparecem a cada momento nas nuvens até que se avista o plateau da Borborema.
Duas léguas antes de chegar à Campina descortina-se uma belíssima paisagem, uma extensa várzea que justifica uma antiga denominação imperial.
O cenário lembra o magistral poema de Silvino Olavo, em trecho:

Rompe cabanas, matagais tristonhos,
despenhadeiros, barrancos medonhos
nada lhe amaina seu rápido furor.”.

A vegetação marginal se adensa. Pela manhã a sensação é de frescor que vem das matas verdes: timbaúbas, coqueiros, cajurubebas e o estendal florido onde predomina a nuança arroxeada das salvas.
O ano é 1932. Lafayete Cavalcanti Correia de Melo administrava o município desde fevereiro de 1929. A cidade se desenvolvia a passos largos. A sua população estima-se em cem mil pessoas.
Nesse contexto, a estrada de ferro assumia uma importante missão. A de realizar o apogeu econômico, fazendo o transporte de mercadorias, animais e pessoas.
Por aqui já exitiam os dois grandes times de futebol: Treze e Campinense. Os educandários Imaculada Conceição (Damas) e Pio XI, eram referência no ensino local. Infelizmente fechavam as portas o instituto São José, de Clementino Procópio, e o Olavo Bilac, de Mauro Luna.
A imprensa era forte. Circulavam na cidade “O Século”, “O Rebate” e o jornal “Comércio de Campina”. Euclydes Villar coletava dados para o “Almanach” da cidade. E fundava-se o Hospital Pedro I, nossa primeira unidade hospitalar de Campina.
Ultrapassamos o açúde Bodocongó - importante mananial do passado – para adentrarmos no grande empório comercial da Paraíba. Transparecem ruas e avenidas arborizadas, algumas bem calçadas e com excelentes prédios: bancos, cinemas, grandes lojas; e uma linha de autobus próximo à estação.
O município vivenciava o auge do algodão. Automóveis se dirigem ao terminal para despejar a carga, quase uniforme, de 24 fardos de 70 quilos cada. A estação é pequena, mas aconchegante. Nela, homens e mulheres passeiam com seus trajes impecáveis enquanto esperam a hora de subir a bordo. Trabalhadores empurram suas carroças, empilhando malas de viagem.
O trem para o Recife parte, alternadamente, num dia às 6:40 AM, e noutro às nove horas, afim de combinar as correspondências com os combóios de Natal e João Pessoa.
Os seus trilhos são inclinados em rampa, segundo um estudo realizado em 1889. Dizem que havia planos para o seu traçado. Cortaria a antiga povoação de Banabuyé, termo de Alagoa Nova. Mas alguns políticos preferiram interromoper o seu percurso. Mas o ramal que se chamaria “Esperança” nunca sairia do papel.
De repente um fino apito sibila. O condutor toca o sino e as pessoas educadamente se aproximam. Mais lenha é colocada na fornalha para dar propulsão ao gigante de ferro. Pouco a pouco as rodas giram, ruge o imponente mais uma vez. Estamos de saída, fumegante saí o trem da estação deixando para trás uma cidade rainha, seguindo com destino a Itabaiana, passando por Galante, Ingá e Mogeiro.


Referências:
- ALMEIDA, José Américo. A Paraíba e seus problemas. Ed. União. 
Secretária do Estado da Paraíba. João Pessoa/PB: 1980.
- FERREIRA, Rau. Silvino Olavo. Epgraf. Esperança/PB: 2010.
- JOFFILY, Irineu. Notas sobre a Paraíba. Edição fac-similar de 1892. Ed. Thesaurus: 1977.
- O COMMERCIO, Jornal. N. 3052. Edição de 09 de outubro. Parahyba do Norte: 1907.
- RIBEIRO, Hortênsio de Souza. A imprensa em Campina Grande. R.IHGP, Vol. 11. João Pessoa/PB: 1948.
- SOCIEDADE DE GEOGRAPHIA, Revista da. Tomo XXXV, 1º Semestre. Rio de Janeiro/RJ: 1932

1 Comment

  1. Anônimo on 30 de agosto de 2012 às 11:09

    Devagarinho ia o trem a vapôr. Lembro-me que nos anos 1952/53 viajei de Natal a Campina. Partia as 7 da mañana e chegava a Campina quase as 20 horas. Era muito divertido pois ia vendo os rios, as fazendas e os povoados do longo camino...

     


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