Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
retalhoscg@hotmail.com

QUAL ASSUNTO VOCÊ ESTÁ PROCURANDO?

A FURNA DO CABOCLO BRABO
Na ótica de Irineu Jóffily

Rau Ferreira (*)


A Pedra ou Furna do Caboclo” encontra-se na Serra da Canastra. Trata-se de uma formação rochosa onde afloram laminas de arenito que chegam a medir 80 metros. Nela encontramos uma gruta em formato retangular, que tem sido objeto de pesquisas por anos a fio, e que guarda resquícios de uma civilização extinta.
A história narra que alguns índios foram acuados por capitães do mato para o local onde haveriam sucumbido de fome e sede. As várias camadas de areia fina separada por capas mais grossas cobriam ossadas humanas, revelando que ali fora um antigo cemitério dos primeiros habitantes. Há relatos de objetos indígenas como esteiras e varinhas marcadas com tinta encarnda, e de pinturas nas paredes.
Entre os muitos pesquisadores que se aventuraram a desvendar os seus mistérios encontra-se o inovidável parahybano IRINEU CEILIANO PEREIRA JÓFFILY que, a pretexto de recolher material para o seu fundamental livro NOTAS SOBRE A PARAYBA, visitou o lugar em no sidos d e 1890.
Transcrevemos a seguir as suas impressões:

Para visitar uma das mais falladas necropoles dessa raça, abrangendo uma grande furna da serra da  Canastra, nos limites da Comarca de Areia com a de Campina Grande, tive de arriscar a vida, por estar ella em posição quasi inaccessivel, a centenas de metros de altura.
Não posso explicar o motivo que teve a tribu que habitou aquelle sertão, para esconder alli os ossos dos seus maiores.
Dentro daquelle immenso e singular ossuário, eu o percorri em todos os sentidos, pisando o pó fino que os séculos tinham accumulado em seu solo granítico, procurando nas paredes, cheia de riscos amarellados, um signal que explicasse o mistério.
Representaria elle à época colombiana, ou se remontaria até origens da humanidade, ao homem das cavernas?
Esses vestígios, que talvez servissem de sonda luminosa a um sábio, em nada satisfizerão à minha curiosidade de simples touriste.
Apesar da devastação exercida por visitantes ignorantes ou sem amor à sciencia, que me precederão em diversas épocas, lançando os crâneos de serra abaixo, pude ainda encontrar um inteiro e diversos ossos, que remetti ao Museu, por ocasião de sua exposição anthropológica.
Mas.. o Museu talvez não julguasse o presente digno de apreço.
I. Joffily” (O Brasil: 24/09/1891).

No mesmo artigo, trata o articulista dos Índios Carirys que habitavam os Estados da Parahyba, Rio Grande do Norte e Ceará, descrevendo-lhes o biotipo e narrando alguns de seus costumes. E o quanto influenciaram a nossa região, nomeando, inclusive, algumas localidades: Paó (Alagoa Grande), Bruxaxá (Areia), Bodopitá (serra), Puxinanam (Puxinanã) e Bodocongó, onde o historiador mantinha uma de suas propriedades.
A Pedra do Caboclo Bravo chama a atenção não só pela sua importância arqueológica e histórica, mas pela beleza natural que encanta a todos quanto visitam aquelas paragens. O lugar certamente fora o último reduto dos Índios Cariris, exterminados pelos gentios colonizadores. Porém, como bem salientou JÓFFILY, este sítio arqueológico vem sido profanado desde o Século XVII.
Hoje nada mais resta no fundo da caverna senão a areia revolvida e que não pode ser carregada. Estudos mais aprofundados devem revelar a sua verdadeira origem há muito investigada.
Rau Ferreira

Referências:
-         ALMEIDA, Horácio. Brejo de Areia: memórias de um município. 2ª Edição. Editora Universitária, UFPb: 1980.
-         O BRASIL, Jornal. Edição de 24 de setembro. Rio de Janeiro/RJ: 1891.
-         SOBRINHO, Reinaldo de Oliveira. Esboço de monografia do Município de Areia. Coleção Arquivos Paraibanos. Imp. Official. João Pessoa/PB: 1958.
-         SOBRINHO, Reinaldo de Oliveira. Anotações para a história da Paraíba. Editora Idéia: João Pessoa/PB: 2002.
-         SPA, Boletim. Sociedade Paraibana de Arqueologia. A Pedra do Caboclo. N° 44, Edição de Fevereiro. Campina Grande/PB: 2010.

1 Comment

  1. Jaine Fritz on 24 de novembro de 2016 às 11:30

    Parabenizo vcs por este artigo, muito bom.

     


Postar um comentário

 
BlogBlogs.Com.Br