Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
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Rau Ferreira (*)


C
orria o ano de 1709. O interior da Parahyba era bastante povoado quando fora invadido pelos Tapuias vindos do Rio Grande do Norte em grande número. Não era essa a primeira vez, contudo a investida silvícola demonstrava maior ímpeto. Na sua passagem, destruía tudo o que encontravam pela frente.
Transpondo o Araçagy seguiram pelo Curimataú e foram surpreender os Bruxaxás de Areia e os Bultrins, um pouco ao norte de Campina Grande. O capitão-mór Luiz Soares seguiu-lhe ao encalço tendo os Índios Sucurus ao seu comando, enquanto que Theodósio de Oliveira Ledo, outro capitão de linha, surpreendia-os pela frente. Foram travados diferentes e apertados combates entre as duas forças, obrigando os Tapuias a seguirem pelo caminho dos sertões onde foram aniquilados, “nas quebradas da serra da Borborema” (MACHADO: 1977).
Esse episódio motivou a concessão de Datas de terras aos dois capitães, em reconhecimento aos serviços prestados em favor da Capitania da Parahyba. Antes, porém, deu-se o aldeamento dos Tavares em Campina Grande, cuja nação indígena ficara a cargo de um missionário do hábito de Santo Antonio. Transcrevemos na íntegra o “Registro de uma ordem de S. M. Fidelissima sobre os quintos dos Tapuias”.

João da Maia da Gama. Eu El-Rei vos envio muito saudar. Vio-se a vossa carta de 8 de Junho deste presente anno e treslado que remettestes dos autos, que se processarão sobre o requerimento que vos fez o capitão-mór Luiz Soares acerca de não serem possível virem quintar à esta cidade as presas que se fazem nas guerras
dos Tapuias, e o que obrastes para que com effeito se viessem ali ajustar e que pelo não poderes conseguir pelo damno que se offerecia deferiste que se quintassem nos sertões, embargo da repugnancia que achastes nos soldados, por dizerem que estavam na posse de se quintarem as presas. E supposto se devião fazer as presas ao lugar onde assiste o capitão-mór e Alfandega, comtudo por se evitar o damno de se desencaminharem na jornada, me pareceu ordenar que no mesmo arraial se quintarem; e porque na mesma carta insinuaes o bem que na dita guerra se tem havido o capitão-mór Theodosio de Oliveira Ledo e com maior vantagem o capitão-mór Luiz Soares me pareceu mandar agradecer o zelo com que se tem havido e particularmente o capitão-mór Luiz Soares, da que vos aviso para os terdes entendido.
Escripto em Lisboa a 28 de Novembro de 1710. Rei. Miguel Carlos – Para o Capitão-Mór da Parahyba. 1ª Via.


Além deste, há outro documento que trata da entrada dos sertanistas e nos convém reproduzir por denotar a necessidade da Coroa Imperial em reunir os grupos indígenas aldeados que se achavam espalhados, a quem era conferido tudo o que era necessário para permanecerem nas ditas aldeias e se radicarem na fé, recomendando que se construísse uma igreja onde o missionário pudesse administrar-lhe os sacramentos mediante côngruas para a fabricação de hóstias e vinho, de maneira que estes pudessem viver sob a luz do conhecimento e da religião católica. Eis a carta de 1701, tal qual fora escrita a seu tempo:
Reg. de uma carta de S. M. Fidelissima por por onde manda dar aos capelaes de cada uma das 8 aldeias de Campina-Grande, Camaratuba e Piranhas 870000.

Capitão-Mór da Capitania da Parahyba – Eu El-Rei vos envio muito saudar. Por ser presente, que nos sertões dessa capitania se achão hoje muitos índios aldeados, e ser conveniente conservarem-se estes e fazer-se toda diligência para se aldearem os que estão espalhados, dando-se-lhes tudo o que for necessario para que possão presestir nas ditas aldeias e radicarem-se na fé, seguindo-se deste fructo não só o serviço de Deus no espiritual, mas o meo no temporal, Fui servido resolver que na aldeia de Camaratuba se faça uma Igreja e que nella exista um Missionário para administrar os sacramentos à estes Índios... com o titulo de capellão e que se lho ilê de congrua vinte e cinco mil reis para fabrica e guisamento de hóstias e vinho, e que isto mesmo se obre com o que existe em Campina-Grande e da mesma maneira com o das Piranhas, pagando-se-lhes as congruas e fabricas da Fazenda Real. E para edificação destas Igrejas me pareceo ordenar-vos persuadais e obrigueis aos moradores, que se achão visinhos e junto aos sítios destas mesmas aldeias, concorrer para as despesas que se entende não poder ser de grande importância... junto assim poderem os mesmos Índios ajudar no trabalho destas obras, e o mais que faltar se suprirá da Fazenda Real e dareis à entender aos ditos moradores o grande benefício que logrão em terem estas Igrejas e Padres, porque escusão ir satisfazer o preceito da Igreja em maior distância e sobre tudo que poderão ter com estas aldeias uma mais importante conveniencia, como costumão ter onde ha indios domesticos, que vivem com luz e conhecimento da verdade e religião catholica; e do que obrares neste particular me dareis conta. Escrita em Lx à 13 de Janeiro de 1701. Rei. Para o capitão-mór da Parahyba, José de Freitas Serrão (grifei).

O governador dos Bultrins chamava-se Pedro Valcácer. Este requereu no ano de 1714, uma Data de terras com três léguas de comprido e uma de largo no lugar denominado “Jenipapeiro”, junto ao Sítio Bultrins que era dos mesmos índios que foram transferidos para a missão do Pilar.
Teodósio de Oliveira Ledo - seguindo os passos de Diogo Jorge Velho - exerceu sua fúria contra os indefesos índios amalocados em Campina Grande, matando-os a sangue frio. E “além de matar muitos, forneceu largo contingente para o terço de Morais Navarro, que triste memória deixou nos sertões nordestinos. [...] Os que restaram da carnificina oficial geraram o homem forte do sertão, representado no fazendeiro, vaqueiro, cantador de viola, romeiro do Padre Cícero e cangaceiro de fama” (R.IHGB: 1978, p. 441/442). Os prisioneiros eram enviados para as praças de Pernambuco, para serem vendidos como escravos.
Bolanger aponta os “fatores que concorreram para o aniquilamento dos silvícolas desta região do Cariri”: a) o prurido dos conquistadores e cronistas de alardearem a glória nas batalhas contra os Índios; e, b) as epidemias que se alastrarem entre os silvícolas após o contato com os colonizadores (UCHÔA: 1964, p. 57).
Capelães foram pagos pelo governador da Capitania para dar assistência às aldeias de Campina e Piranhas. Iniciativas como estas deram a florescer essa povoação. Em seu entorno foi construída uma pequena capela que depois foi demolida para a construção da Matriz de N. S. da Conceição.


Rau Ferreira*



(*) Cidadão esperancense, bacharel em Direito pela UEPB e autor dos livros SILVINO OLAVO (2010) e JOÃO BENEDITO: O CANTADOR DE ESPERANÇA (2011). Prefaciador do livro ELISIO SOBREIRA (2010), colabora com diversos sites de notícias e história. Pesquisador dedicado descobriu diversos papéis e documentos que remontam à formação do município de Esperança, desde a concessão das Sesmarias até a fundação da Fazenda Banabuyê Cariá, que foi a sua origem.

Referência:

- MACHADO, Maximiano Lopes. História da Província da Paraíba. Vol. I e II. Coleção Documentos Paraibanos. Editora Univesitária Universitária/UFPb. Reimpressão: 1977.

- ALMEIDA, Horácio de. Confederação dos Cariris ou Guerra dos Bárbaros. R.IHGB. Vol. 316, Julho/Setembro. Departamento de Imprensa Nacional. Rio de Janeiro: 1978.

- R.Instituto do Ceará. Vol. XVI. Edições 1-2. Fortaleza/CE: 1902.

- SERTÃO, Gazeta do. Órgão democrático. Edição de 21 de setembro. Campina Grande/PB: 1888.

- UCHÔA, Boulanger de Albuquerque. História Eclesiástica de Campina Grande. Departamento de Imprensa Nacional: 1964.

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