Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
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                              Construída pelo missionário José Antonio de Maria Ibiapina – o Padre Ibiapina - nos moldes de uma “casa grande”, era talvez a menor das existentes em terras nordestinas. Localizada próximo a antiga Sanbra, constava de quartos e salas em formato retangular; o primeiro cômodo servia de recepção e o segundo, ao centro da residência, de refeitório. Havia salas de trabalhos manuais, costura e aula onde se aprendia a ler, e também tecer e contar. A casa não possuía forro, sendo abastecida por dois poços que forneciam água potável para consumo e gasto diário. Existia uma pequena capela para orações usada pelos órfãos e acomodação para as beatas.
No paroquiato de Monsenhor Sales (1885/1927) houve uma grande assistência material e religiosa. O padre trouxe mestres do Rio e do Recife para ministrar-lhe cursos manuais tornando-os verdadeiros artistas. A partir daquele momento os internos passaram a confeccionar as próprias roupas (uma veste talar), os paramentos do vigário, as toalhas dos altares, flores artificiais e arranjos, recebendo encomenda até de outras paróquias da Província. Formou-se ainda um coro que se apresentava nas celebrações litúrgicas da Matriz, atraindo inclusive aqueles que eram indiferentes à religião.
Com o aumento das beatas e órfãos, fez-se necessária o alargamento da residência e a construção de uma capela maior para satisfazer-lhes o preceito dominical, o que foi empreendido pelo Padre Sales.
Entre os anos 1908 e 1920, instituiu-se no local um externato – espécie de Escola Doméstica - onde foram matriculadas mais de 300 alunas que aprendiam além do curso primário, corte e costura, canto e arte culinária. Para atender as necessidades, a casa chegou a contar com trinta beatas.

Com a morte de Monsenhor Sales em 1927 o serviço ficou abandonado. Houve uma debandada no número de beatas e órfãos, restando apenas duas ou três vivendo da caridade e do favor de Deus.
Quando foi criado o Bispado de Campina Grande, Dom Anselmo Pietrula, visitando a velha casa, apiedou-se e estudou um meio de ampará-la. Entrou em entendimento com Frei Ângelo - Provincial da Ordem Carmelita no Recife -, e com a aprovação da Nunciatura Apostólica, entregou a residência para moradia dos Carmelitas, que ficaram responsáveis pela assistência espiritual e financeira das beatas através de uma renda mensal de R$ 1.500$000 (um conto e quinhentos mil réis), enquanto elas existissem, passando a casa e o terreno a pertencer à Ordem Carmelita após o falecimento da última beata.
Posteriormente, a SANBRA – Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro – tendo nas imediações o seu parque industrial, propôs aos Sacerdotes Carmelitas a compra do terreno. E com a aprovação de Dom Otávio Barbosa, então Bispo Diocesano, foi o mesmo negociado pela importância de Cr$ 12.000.000 (doze milhões de cruzeiro), os quais foram investidos na recém criada Paróquia do Sagrado Coração de Jesus.
A Casa de Caridade de Campina Grande foi finalmente demolida em 12 de agosto de 1961.

Rau Ferreira (*)

 (*) Cidadão esperancense, bacharel em Direito pela UFPB e autor dos livros SILVINO OLAVO (2010) e JOÃO BENEDITO: O CANTADOR DE ESPERANÇA (2011). Prefaciador do livro ELISIO SOBREIRA (2010), colabora com diversos sites de notícias e história. Pesquisador dedicado descobriu diversos papéis e documentos que remontam à formação do município de Esperança, desde a concessão das Sesmarias até a fundação da Fazenda Banabuyê Cariá, que foi a sua origem.

Referência:
- MARIZ, Celson. Ibiapina: um apóstolo do Nordeste. Vol. XX da Biblioteca Paraibana. Editora Universitária/ UFPB: 1997.
 - Fotos: UCHÔA, Boulanger de Albuquerque. História Eclesiástica de Campina Grande. Departamento de Imprensa Nacional: 1964.
- ALMEIDA, Elpídio de. História de Campina Grande. Edic̜ões da Livraria Pedrosa: 1962.

6 comentários

  1. Edmilson Rodrigues do Ó on 25 de maio de 2012 às 19:04

    O Padre José Antonio de Maria Ibiapina foi um apóstolo que dedicou sua longa vida num duro trabalho de amparo aos necessitados. O seu lema foi fundar Casas de Caridade cujo principal objetivo foi amparar órfãos, promover o aprendizado, e abrigar os flagelados das grandes sêcas históricas que assolam o nordeste. Infelizmente, após a sua morte, a sua obra não foi levada avante. É triste e lamentável o destino que as autoridades eclesiásticas deram a maioria das Casas de Caridade do apóstolo Padre Ibiapina.

     
  2. Unknown on 6 de junho de 2012 às 00:43

    Fiquei emocionada e surpresa ao ver essa página dedicada à casa de Caridade onde passei todas as minhas férias e onde minha mãe foi educada. Não sei se é do conhecimento mas essa instituição teve por superiora ( em terras do meu bisavô, assim me consta) Irmã Maria Francisca de Gusmão, ( Mãe Chiquinha) minha tia avó. Conheci este convento como a palma de minha mão. Com tristeza vi e sei como foi que aconteceu, a venda. Só restavam quatro freiras. Seria interessante que pudessemos nos conhecer. Afinal era a casa de minha familia.

    Abraços

    Maria

     
  3. Anônimo on 27 de agosto de 2012 às 12:42

    Eu me lembro da Casa da Caridade. Fui muitas vêzes quando era menino. Minha mãe estudou ali e tínhamos quadros de desênhos feitos por ela quando era aluna. Estou revivendo tôda minha infância desde que decubri este blogs. Obrighado!

     
  4. Maria on 14 de janeiro de 2019 às 13:24

    Tenho uma relação extremamente afetiva. Estas terras foram de meu avô, assim soube, e a superiora, Irmã Maria Francisca de Gusmão, minha tia avó. Hoje existe uma rua com seu nome.
    Lá foi educada minha mãe e tia e passava minhas férias. Inesquecível!

     
  5. Maria on 16 de março de 2019 às 11:15

    Desculpe o “delay “ Fico sempre emocionada com esse assunto. Mas uma pergunta , esses desenhos de que fala l, forma feitos pela freira? Obrigada!

     
  6. Jacy on 11 de setembro de 2022 às 19:23

    Eu fui internada ali, aos meus 4 anos junto com a minha irmã mais velha. Nós ficamos ali durante 7 a oito anos, os quais para mim pareceram uma eternidade. Infelizmente não me lembro de nada de bom nesse internato, foram anos de muito sofrimento e abandono.

     


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