Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
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Por Jobedis Magno

A folia nos Clubes 
No Salão do clube o  trajeto dos foliões consistia em uma movimentação em círculo, obedecendo ao sentido horário – mas também havia alguns sujeitos cheios de “ birita”, que preferiam brincar no sentido anti-horário, o que era sinônimo de confusão. As garotas desacompanhadas ficavam nas bordas do salão, observando aquela alegre confusão. De repente, uma mão saindo do meio da massa  lhe alcançava o pulso e a puxava para o salão. Se houvesse interesse recíproco, a foliona enganchava no sujeito e ia pra guerra. Se não, ela dava um jeito de liberar o pulso das mãos do “enxerido”. Essas efêmeras conquistas carnavalescas se constituíam na glória (ou “toco”) de qualquer moleque que buscava as folias de Momo.

Os foliões  se movimentavam no salão de acordo com a música. Havia as marchinhas para uma evolução rápida – leia-se correria desenfreada e trombadas entre os participantes –, como os frevos as mais frenéticas de todas, que costumava causar algumas quedas coletivas no salão. No dia seguinte, após a ressaca carnavalesca, a turma se reunia para contar vantagens sobre as conquistas efetuadas e fazer planos para os bailes do dia seguinte. Só cascata, evidentemente, ninguém tinha “ficado” com ninguém. Aqueles beijinhos pueris eram somente isso, beijinhos pueris. Mas na nossa adolescência, com os hormônios à flor da pele, a mentira era  nossa mais perfeita aliada. E não deixava de ser um bom aprendizado para a idade adulta...

Nesta foto de 1966 na AABB vemos os amigos Wallace (falecido), o vosso amigo (Jóbedis),
Naldo, Hérmani, Maribondo e Lula Peão (falecido).


No final dos anos 70, face final dos grandes carnavais de clube. Participei dos últimos carnavais em nossa cidade no Campinense Clube com a orquestra de maestro Cipó. Carnaval animado com a boa orquestra, tocando frevos, machinhas e o velho samba, com a presença de blocos de salão, muita fantasia e grande animação. Nesse período o carnaval de bairro já estava em decadência, não só em Campina Grande, mas na maioria das cidades Nordestinas. 

Na década de 80 foi o início da ocupação das bandas baianas e a comercialização dos grandes carnavais, fim da era romântica, da espontaneidade, da irreverência, do deboche e da critica. Infelizmente, acabou nosso Carnaval em salões, desapareceram as velhas marchinhas, ninguém passa mais brincando e cantando feliz. Assim era o nosso Carnaval ou velhos e antigos carnavais da nossa terra “Rainha da Borborema”, reminiscências de um passado glorioso que fica para registro da história. 

Alguns já se encontram em dimensões mais elevadas. Outros, porém, continuam percorrendo os outros caminhos. E agradeço a Deus por ter me dotado de tão boa memória, de me conservar ainda lúcido, para reviver a alegria de um passado, que se perde nas brumas do tempo! Quando encontro amigos, que durante muito tempo estiveram ausentes sinto a mesma alegria, o mesmo calor de bons tempos de íntimo e freqüente convívio.

Campina Grande, hoje, não tem Carnaval - Esta afirmativa é verdadeira, pois até a Micarande a prefeitura atual extinguiu. Entretanto. Podemos ir diretamente ao assunto principal. Reconheço que o carnaval fora de época  aglomera todas as classes sociais, mas de forma bastante segmentada e até certo ponto preconceituosa. Esclareço que não defendo o fim dos blocos baianos, nem mesmo a retirada das cordas e, sobretudo não defendo o fim da Micarande. No entanto, exijo respeito a uma tradição onde o que sempre imperou foi à harmonia e a irreverência. Hoje se vê a elite rica ou iludida em blocos e camarotes e os pobres esmagados entre as cordas e os muros dos camarotes tomando empurrão da polícia e até sendo maltratadas pelos seguranças.

Vai ter quem reclame, por certo, da postura saudosista. Mas nem por isso vou deixar de dizer, com bastante ênfase, que os carnavais de outrora, dos bons e irrecuperáveis anos 60, eram infinitamente mais joviais e prazerosos. Quem não viveu aquele tempo deverá ter dificuldade para entender o meu grande entusiasmo por aqueles carnavais. Infelizmente hoje em dia muita gente só consegue participar de festas, inclusive populares, ingerindo e/ou cheirando “motivação”, uma lástima. Aqui em Campina Grande quando  ainda existia a Micarande, todo ano oferecia tristes espetáculos provocados por quem não conseguia  alcançar o verdadeiro e autêntico espírito de uma alegria sem excessos.

Jobedis Magno de Brito Neves
Colaborador do RHCG

8 comentários

  1. Carlinha on 25 de novembro de 2010 às 19:24

    Cada dia que passa, sinto mais saudades de CG! E vc Jobédis resgata esses momentos únicos!

     
  2. Leda Maria on 6 de março de 2011 às 14:05

    Nossa saudades do corso dos papangús correndo atrás da gente e nós jogando água neles, como não tinha idade de ir aos bailes dos clubes, nesse tempo o juizado de menor atuava mesmo, restava apenas as matines no CRESSE(CLUBE RECREATIVO DOS SUB TENENTE E SUB SARGENTOS DO EXERCITO,

     
  3. Leda Maria on 6 de março de 2011 às 14:33

    Este comentário foi removido pelo autor.

     
  4. Leda Maria on 6 de março de 2011 às 14:36

    Desculpem - retificando GRESSE não Cresse

     
  5. Mariluce Falcão on 30 de junho de 2011 às 11:46

    Parabéns pela matéria, nasci em Campina Grande na década de 50 , mas estou morando em Macapá há mais de 30 anos , estava pesquisando na net algo sobre Campina Grande quando acessei este site e revi nostalgicamente o que tínhamos ha 40 anos atrás,em que embelezávamos as ruas da nossa belíssima cidade com blocos,corso, escolas de samba,clubes... aí vem esse artigo muito bem escrito pelo Jobedis que conheci no Gigantão, maravilhoso, que resgata essa vivência tão sã,doce e dócil.pena que acabou! poderíamos buscar esse tempo para hoje? ou ficaremos saciados com os desfiles repetitivos das escolas de samba do Rio e de São Paulo??
    ? será que nos contentaremos com isso? por que não trazermos de volta?????? que saudade!!!!

     
  6. Anônimo on 24 de julho de 2011 às 11:15

    Em 1991(ou seria 1990?)fiz uma entrevista com Capiba que estava na cidade para prestigiar a primeira micarande.
    Perguntei: "e a micarande,Capiba?"
    E ele respondeu a queima-roupa:"Vai acabar!"
    E eu:"acabar como? Esta é a primeira!"
    E ele:"meu filho, carnaval é em fevereiro.Essa festa de voces é muito bonita,pode durar dez,vinte anos mas um dia acaba!"
    Pois não é que o maestro tinha razão?

     
  7. Gilmária Salviano Ramos on 12 de fevereiro de 2012 às 14:38

    É muito legal ver a história de Campina Grande aqui. Bate uma saudade muito grande. Estou produzindo tese sobre defloramentos na Paraíba,1950/1989. O acervo de memórias e fotografias servirão para montar a configuração das cidades, em termos de festas, bailes, sociabilidades. Obrigada por essa preciosa memória.

     
  8. Anônimo on 18 de fevereiro de 2015 às 11:19

    Hoje o nosso Jobedis amplia lista de falecidos que aparecem na fotografia.
    Saudades!

     


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