Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
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Por Jobedis Magno

Nasci na década de 50 no bairro do São José em Campina Grande. Sou saudosista e por isso gosto de evocar lembranças, sobretudo aquelas vinculadas à infância e a juventude. Muitas lembranças do passado chegaram-me em grandes quantidades à minha mente. São momentos diversificados da existência, cujo cenário principal era a Rua Felipe Camarão no bairro do São José, onde ainda está de pé resistindo ao tempo a casa onde nasci. Lembranças das antigas Bodegas de Seu Leopoldo Menezes e de Giovane Barbosa (pai dos meus amigos de infância Nego Gilson e Geraldo Leal). Lembranças do  banco da Praça do Trabalho que serviam de ponto de encontro para bate-papo da juventude de minha época. Veio-me à memória os bate papos e debates salpicados de um tom à vezes pitorescas, às vezes intelectualizadas dos nossos contadores de causos: Raul de Melo, Sabará, Fubá Vei. Sem esquecer o folclórico Zé Neguim ou Zé Balbino como era também chamado, verdadeiro guru, que sem alarde nos alegrava com suas inocentes participações. As acirradas pelejas de porrinha valendo tira gosto e cervejas do Bar Cristal de Wamberto Pinto Rocha, onde quem não pagava suas “contas” ia parar no famoso “quadro dos Velhacos”.

Revi todo o cenário de nossa infância e juventude. E agora me chega às lembranças dos antigos carnavais da cidade. Mas, isso faz parte das reminiscências de todos. Claro, cada geração tem as suas lembranças. Em regra geral, tem saudades do seu tempo de adolescente, época marcante na vida de qualquer pessoa.

Tenho ainda muito vivas em minha memória recordações deliciosas das comemorações que eram feitas durante o carnaval aqui na nossa cidade. Refiro-me aos anos 60, quando eu vivia minha infância, e 70, já na minha juventude. Sinto, sim, saudades daqueles carnavais. Lembro-me dos papangus que passavam pelas ruas e brincavam com as crianças. Da La Ursa e os foliões mascarados que saíam pelos bairros a alegrar e a divertir a todos. 

São lembranças que com o passar dos anos ficam mais vivas na minha memória. Sinto saudades dos vesperais carnavalescos do AABB, parece que quanto mais o tempo passa a nostalgia aumenta. Era uma festa alegre, o clube ornamentado com máscaras, serpentinas, um cheiro agradável de lança perfume, à orquestra tocando marchinhas (Algumas músicas são tão marcantes, que até mesmo nos dias de hoje são cantadas em momentos de alegria. Entre elas estão: “Allah-lá-ô“, “Cachaça”, “Cabeleira do Zezé”, “Abre Alas”, “Ô Balancê” “Mamãe eu quero”, “O teu cabelo não nega”, “Me dá um dinheiro aí” entre outras), samba e frevo, a garotada pulando, jogando confetes, serpentinas e jatos de água para todos os lados. Momento mágico, guardado na memória como uma relíquia.

Saudade imensa, sim, das famosas “batalhas de jogar pó, maizena, colorau ou água nos componentes do corso que eram formados pelas pessoas jovens e adultos que iam em cima de veículos, especialmente jipes e caminhões, que levavam os citados blocos, grupos de amigos, para as ruas seguindo os carros e aos clubes. Todas as pessoas, mascaradas ou não, mas sempre com suas vestimentas e com uma disposição fantástica para brincar de forma saudável, sem precisar de “estimulantes”. A cidade, especialmente o centro formado pelas ruas: Maciel Pinheiro, Floriano Peixoto Marquês do Herval,  Cardoso Vieira e Beco do 31, fervilhava de foliões de todas as classes sociais. Era comum cruzarmos com pessoas conhecidas que, usando fantasias, tentavam brincar conosco sem se deixar reconhecer. 

Blocos, Corsos e as Batalhas de Confetes, pó e água

Eu sou da época em que realmente se brincava carnaval em Campina Grande. Os blocos formados por amigos, parentes ou amigos de amigos saiam pelas ruas, visitando casas para o “assalto”, uma tradição de blocos carnavalescos. Consistia em fazer visitas a diversas residências, cujos proprietários ofereciam bebidas e comidas aos participantes do Bloco. A organização fazia antecipadamente um levantamento de quem poderia ser “assaltada” e definia os locais onde o bloco deveria passar. O carnaval era uma espécie de congraçamento dos jovens e das pessoas de Campina Grande que se organizavam em blocos para empreender visitas nas casas previamente escolhidas. Lembro dos Blocos:


Bloco Lambe – Que participavam os seguintes componentes:

Raimundo Asfora, José Lopes de Andrade, Lauro Lima, Seu Pedrosa da Livraria, Edvaldo do Ó, Valter Camboim e Lúcio Rabelo.

Gentes Muito Importantes - Da Qual participavam os irmão Dureira e Ademir, Nego Nildo, Macaxeira entre outros.

Bloco os Desajustados – De qual participavam os amigos: Hérmani Mauricio, Geraldo Nunes Sobrinho (gatinho), Tadeu de Erinete, leucio Barbosa, Roberto Pai da Negas, Rubens, Zé Modesto, Adelgisio entre outros.

Bloco os Anões – Que tinha entre seus componentes: Cinebaldo Mota, Nelson Gaudêncio, Lourival Tavares, Darlon, Marcão entre outros.

Bloco da Vepel – tinha Bolinha do DER, Roni e Raw, Artur e Glauco Monteiro, Edson do Foto e Bolinha da Guri.

Bloco do Bacurau- (Açude Novo) Renan, João da Penha, Zé Maria, Chico Comuna, Zezito, Pibo e sula,

Bloco Irmãos Metralhas – Que tinham como componentes os seguintes amigos: Leonardo Tavares, Helder Sinfrônio, Paulo Jorge Zilly, Francisco Alfredo Bandeira, Ronaldo Nóbrega Tavares, Sergio Pinto, Lucio Cunha Lima, Marcos Antonio Lucas e José Cavalcante Maia.

O Bloco “Os Vadios do São José” que participavam: O seu amigo aqui o Jóbedis, Fernando Canguru, Glauco Kardec, Marcos Machado, João Enganei Mãe, Som, Firmino, Naldo, Decio Pedrosa, Beri, Patricia e Socorro Dantas, Nice entre outros. Existiram outros blocos que me fogem da memória  

O Corso - Nas décadas de 1960 e 1970 o corso da cidade era outra atração, um dos veículos mais utilizados no corso era o Jipe, sem capota. Havia também muitas camionetes e caminhões, por serem veículos abertos, essenciais para a brincadeira. Diversos foliões preparavam carros só para o desfile do corso. Serravam a lataria de fuscas, por exemplo, para que ficassem  conversíveis e os decoravam com pinturas carnavalescas e frases engraçadas.

Eram bastante comuns, nessa época, grupos de jovens desfilando em jipes sem capota, ornamentados e abastecidos com confete, serpentina, maisena, talco e tonéis cheios de água, onde as bisnagas eram abastecidas para molhar uns aos outros. Além das bisnagas de plástico, havia ainda um artefato artesanal, muito popular, construído com cano de PVC e cabo de vassoura, uma espécie de “bisnaga-gigante”, que era cheia com água e, por pressão, fazia com que jatos fortes molhassem os escolhidos para a brincadeira. Funcionava como uma mangueira portátil para dar banho nas pessoas.

 Além da água, as pessoas eram “presenteadas” também com “nuvens” de colorau, maisena, talco ou farinha de trigo, quer estivessem nos veículos em movimento (marcha lenta) ou nos “points” onde paravam para apreciar o desfile, comer, beber e paquerar. Na década de 1970, era bastante consumida nesses “points” uma “Cuba Libre” coca cola com Rum Montila. 

As fantasias mais usadas na época eram pierrô, colombina, arlequim, mas tinha muita gente fantasiada de Papangus, de urso, índio entre outras coisas mais. O Carnaval de antigamente não era como hoje, as pessoas mascaravam-se, gozavam com as outras pessoas, pois estando disfarçadas podiam fazê-lo sem serem reconhecidas. Faziam-se assaltos, que era irem ter com alguém em especial e fazer-lhe a vida negra para se gozar com essa pessoa até se fartar, deixando tudo em confusão. Além dos índios, do boi, tinha os papangus, que faziam um medo tremendo às crianças e até adultos.

O carnaval de antigamente era mais democrático, hoje pouco resiste em algumas cidades. Das maiores, Recife, Olinda é um bom exemplo. Salvador também, certo, só que lá já existe toda uma estrutura profissional a comandar as festas nas ruas lideradas sempre por imensos trios elétricos.

Lembro da Avenida Floriano Peixoto, uma verdadeira avenida dos antigos carnavais. Os corsos e cortejos carnavalescos desembocavam na Rua Maciel Pinheiro, dançando e cantando as machinhas e frevos, caminhava pelas ruas centrais da cidade, momento mágico que ficou gravado nas minhas reminiscências. Era uma verdadeira bagunça organizada.

Durante o dia era todo mundo junto... Não tinha essa história de mortalha, abada para separar o povo. Agora... A noite tinha os clubes... Claro... Tinha os clubes dos menos favorecidos que era o Flamengo de Zé Pinheiro, o Ipiranga e o Paulistano. Tinha o Clube do Trabalhador que era uma classe mais ou menos e tinha os clubes maiores e da elite que eram: Campinense Clube, AABB, Gresse, Campestre, Caçadores e o Clube 31.
 (Vídeo - Carnaval em clube de Campina Grande: anos 60 - IMAGEM: JOSÉ CACHO)

O carnaval de antigamente era para o povo, famílias inteiras participavam em praticamente todos os bairros todo mundo, de criança a idosos, podiam participar da folia, pois se gastava pouco dinheiro e havia muita alegria e respeito; e lógico, não existia essa violência. O carnaval de rua não tinha separação como estes carnavais existentes no Brasil. Esse carnaval de fora de época de algumas cidades do Brasil e até alguns anos em Campina Grande não é nosso é um modelo industrializado da Bahia.

(Fim da Primeira Parte)

6 comentários

  1. Carlinha on 25 de novembro de 2010 às 19:21

    Adoro suas postagenssss!!!
    Vc escreveee muito bem, até parece que vivi essa época!
    Abraçãooooo

     
  2. Anônimo on 26 de novembro de 2010 às 06:15

    Valeu, Jobão!!!
    Você nos faz reviver a época de ouro da nossa juventude, e confirmar o quanto fomos felizes.
    Grande abraço.

     
  3. veronica on 21 de março de 2011 às 12:43

    BOM DEMAIS,REVIVI OS CARNAVAIS NO CAMPINENSE CLUBE.PARABÉNS PELA INICIATIVA. ADOOORO RECORDAR.
    VERÔNICA

     
  4. Glêdes on 20 de maio de 2011 às 20:20

    Que surpresa! Que saudade! Foi por acaso que acessei este blog e, logo de cara, vi a merecida e justíssima homenagem a Sabará, a quem admiro e respeito muito (e ele sabe disso). Mas vi tanta gente com quem conviví! Pra começar, meu próprio irmão, Tom, e mais Chico Cateta, Iacoíno, Chicão, meu querido Raul...Agora, relembrei os carnavais do Campinense,o corso... Emoção demais pra meu primeiro contato com seu blog!! Ah, a propósito, meu nome é Glêdes Emerenciano de Melo, filha de Seu Assis, nascida e criada no São José.

     
  5. Jobedis Magno de Brito Neves on 13 de junho de 2011 às 18:44

    É com gratidão, e imenso prazer, que tenho sentido um caloroso acolhimento por parte do público leitor. Agradeço, por isso, todo o apoio, atenção, estímulo e paciência que muitos amigos e leitores me têm dispensado. Com efeito, tem sido com muita satisfação que tenho escrito para este Museu virtual de Campina Grande que é o RHCG, que se tem desenvolvido em função de temas diversos sobre o nosso passado. Quero também deixar uma palavra de agradecimento à amiga Guedes Emerenciano (solicito a amiga que veja a pequena historia que fiz sobre o Cine São José neste site) que através das suas lisonjeiras palavras me deu ânimo, bem como o incentivo e as encorajadoras palavras recebidas dos amigos têm-me, também, dado bastante alento para continuar a escrever e a partilhar, neste site, textos de memórias dos nosso passado.Cordiais saudações a todos, caríssimos leitores e amigos.
    Jobedis Magno

     
  6. Anônimo on 29 de junho de 2011 às 15:04

    Eu vi umas latinhas e uns lencinhos... rsrsrsrsr LANÇA-PERFUME?

     


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